Fico muito feliz e satisfeita, por continuar a ver os nossos lavradores nas suas carrinhas a distribuir o leite das suas bilhas em jarros, do mesmo modo, a amigos, vizinhos e familiares. As papas grossas continuam a fazer-se neste dia, porque é tradições fazerem-se neste dia dia da Ceia Grande.
Quinta feira Santa, dia da Última Ceia do Senhor. Nesta nossa Vila desde que me conheço, desde o tempo em que o meu pai trazia o leite das suas vacas, para casa na carroça, neste dia íamos levar canecas de leite e toda a vizinhança a quem não o tinha, a familiares e amigos, por alma dos defuntos da casa. Era assim &hellip
Fico muito feliz e satisfeita, por continuar a ver os nossos lavradores nas suas carrinhas a distribuir o leite das suas bilhas em jarros, do mesmo modo, a amigos, vizinhos e familiares. As papas grossas continuam a fazer-se neste dia, porque é tradições fazerem-se neste dia dia da Ceia Grande.
Estas são feitas com o leite das vacas, aquele com que fomos criados. Leite cru, tal qual sai do obero da mesma. Há anos atrás todos nós bebíamos assim o leite, sem ser pasteurizado, era simplesmente coado, com o um coador feito em casa, de tecido que se prendia na boca da lata. Assim era nos lavradores mais minuciosos ou limpos.
Outros ordenavam directamente para a lata, e dessa vinha direito para casa. Em algumas casas existiam coadores em metal, com os quais se coava o leite antes de ir para a panela ferver.
Voltando às papas grossas, hoje são feitas em tachos de inox ou de esmalte grosso.
As antigas panelas de ferro que exigiam as trempes em ferro, armadas na rua, ou nos fogões de lenha, estão fora de questão.
Provocavam maior cansaço em mexer, para que não se apegarem ao fundo, e não ganharem fumo.
Fazer papas grossas, hoje é mais fácil e cómodo. Temos outras condições. Regulamos o calor do lume a gás e não levamos com o fumo na cara, só nos resta mexer e apanhar o calor da chama do fogão.
Os ingredientes são outros, são papas modernas, como costume dizer, saborosas pelos ingredientes usados como: manteiga, ovos, raspa de limão e claro açúcar.
As papas grossas resultam da moagem de milho em condições especiais.
A pedra de moer o milho para este fim, tinha de ser uma pedra diferente, uma pedra ou melhor mó, picada, para que saísse aquele produto moído, quase como triturado que depois de peneirado para separar o carolo da farinha, apurando a parte grossa e a faúlha para pôr às galinhas ou aos porcos.
Os moleiros tinham dia de moer este tipo de milho, que era diferente de moer o milho para a fazer a farinha de cozer pão de milho. Peneirar este milho moído é uma arte. Tem de ser numa boa peneira, saber-se andar com ela, rodando de modo a apurar por cima a parte desnecessária às papas. Com o peneirar a farinha do milho cai, e pode ser aproveitada para outros fins.
Depois escaldar o carolo, depois de peneirado e limpo ao vento. As papas grossas do antigamente, eram grossas em grosso modos, levavam leite gordinho puro das vacas, o carolo, açúcar e para acrescentar a farinha de milho que sobejada da peneiradela para aumentar a porção. Porque era dia de Ceia Grande,
Papas grossas e pouco mais.
Bem hajam as mulheres que as faziam assim. Alimentavam as suas famílias, esse dia era um dia doce, existia açúcar tão raro em certas épocas da nossa vida.
Hoje são apreciadas tal qual cada uma as faz, porque com mais ovos, mais limão, ou menos, continuam a saber a milho moído para esse fim e só por isso são especiais, boas, saborosas e enchem o estômago de quem as tem, e delas gosta.
Aprecio que se continue a fazer estas tradições: Dar, partilhar, inovar, e lembrar.
Continuemos a dar por alma daqueles que nos criaram, que nos ensinaram e nos deixaram o muito que temos em todos os sentidos. Há quem pense que é um gesto fora de moda, mas sejamos humanos e não é vergonha lembrarmos aqueles que de nós fizeram Gente.
Quinta-Feira Santa, 2015
Maria Filomena Martins
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