Da história desta ilha, salienta-se a bravura do seu gado e a valentia do seu povo. Imaginando-o conduzido por Brianda Pereira de encontro aos Castelhanos, na batalha da Salga em 1581.
Apetecível cartaz turís…tico, nesta terra abençoada por Deus, onde o gado bravo encontrou pastagem e condições sócio culturais para crescer.
Sempre me lembro de ouvir falar de toiros e touradas. Da história desta ilha, salienta-se a bravura do seu gado e a valentia do seu povo. Imaginando-o conduzido por Brianda Pereira de encontro aos Castelhanos, na batalha da Salga em 1581.
Os touros fazem parte da nossa existência como terceirenses. Sempre convivemos com eles, estamos habituados às touradas, a todo o seu envolvimento nas nossas festas locais. Mordomos que se prezemterminam os festejos com uma brilhante tourada. Todas as freguesias, a bem dizer, têm os seus costumes, “cada terra com o seu uso, cada roca com o seu fuso”, diz o ditado, todos eles incluem as touradas.Como diz Vitorino Nemésio “as festas do Espírito Santo enchem a Primavera das ilhas de um movimento fantástico, como se homens e mulheres, imitando os campos, florissem”. Ainda no tempo do Espírito Santo começam as nossas touradas. É por estes dias, que o povo sedento deste fenómenocorre aosarraiais, para ver os touros. “Vamosp`rós toiros”, anunciam os que apressadamente, para lá se dirigem.
Passar numa freguesia em dia de tourada, percebe-se logo.
Pela manhã, há pessoas que procuram o melhor lugar,paraverem o toiro. Vão pedir um lugarzinho edeixar a sua marca. Os donos das casas onde existempalanques estão por perto, assegurando-senão haver trocas de lugares, que gerem mal entendidos. Há que reservar os melhores lugares para as pessoas da família e amigos.
De manhã, os mordomos saem para o mato, a fim de verem apartar os toiros, acompanhados por amigos ou por excursões. As pessoas gostam de passar o dia perto dos animais bravos. Jogam à bola, convivem, há bezerras que correm e osrapazes novos experimentam a sua sorte na praça, dando uns passos.
Depois do almoço, começam a chegar ao arraial os primeiros aficionados, já de meia idade, procuram um lugar seguro e com boa visibilidade. Munidos de guarda-sol, não vá o tempo desmoronar-se em água ou o sol ser demasiado intensivo. Os homens dos cestos e dos gelados chegaram, as senhoras das donetese as das tábuas que sorteiam chocolates. Todos querem fazer negócio.
As tascas chegam cedo.Ocheiro a bifanas já paira no ar. Procuram os melhores lugares, Junto dos riscos da corda, ou em alguma entrada, resguardada do toiro, não vai este fazer algum prejuízo. Há ovos cozidos, com malagueta, tremoços, cervejas e as bifanas saem, até se esgotarem.
Nas ruas da freguesia, começam a afluir carros e mais carros, hoje cada pessoa leva o seu.
Numa correria desenfreada, lá vão as mulheres, com as crianças escanchadas ao quadrilho ou pela mão. São pequenas e têm dificuldade em acompanhar o passo rápido dasmães, quevão à procura de um bom lugar, de preferência à frente. Andam com passos largos, com o toiro quase a sair, lá se acomodam, enquanto as crianças começama pedir gelados, ou a chamar o homem dos cestos, querem pipocas.
Eh pequeno, diz a mãe, ainda agora chegaste e já queres comer?! Olha mas é p`ro toiro, que está quase a sair! Vê primeiroo toiro, depois comes as pipocas.
Olha teu pai, foip`ra outro lado, ou – se calhar teu paiestá na tasca. Vai mas é ter com ele, que te compre umabifana, e fica calado.
Assim começa a tourada, com oestalar do foguete e o toiro a correr, de uma ponta a outra do arraial. Os capinhas estão a chamar bem, e já vem o do guarda-sol. Dizem as mulheres entusiasmadas:
– Olha,vê,como o toiro o segue, este é bravo, é do meu ganadeiro.
Viva a festa! Viva a tourada da Terceira!
D. Insular
2015-05-08
Maria Filomena Martins