14 de Janeiro de 2025 - 06:33 Vila São Sebastião, Portugal

19 de Janeiro de 2022 - 19:00 - Vila São Sebastião, Portugal

JUNTA DE FREGUESIA

Vila São Sebastião

Bairros Históricos

A Batalha da Salga foi um recontro travado a 25 de Julho de 1581 na baía da Salga, em São Sebastião, na jurisdição do extinto concelho da Vila de São Sebastião, Terceira, Açores, entre uma força de desembarque espanhola e as forças portuguesas que, em nome de D. António I, defendiam a ilha em oposição à união pessoal com Espanha, no contexto da crise de sucessão de 1580. Enquadramento geo-político Logo que Filipe II de Castela se achou em posse pacífica do Reino de Portugal, desbaratado inteiramente o seu rival D. António, prior do Crato, de quem se não sabia o paradeiro, por mais instâncias que se fizessem, cuidou primeiro da sua aclamação e do reconhecimento do príncipe D. Diogo, seu filho, como herdeiro legítimo da Coroa Portuguesa. Concluído este acto com as cerimónias ordinárias do país, abriu a Junta dos Estados a 17 de Abril de 1581, com o objectivo de estabelecer as garantias da Coroa Portuguesa e de publicar a ampla amnistia que tinha prometido aos implicados no apoio ao Prior do Crato. Publicada a amnistia, viram os portugueses, com grande mágoa, que, além de não ser geral, abrangia muitas cláusulas artificiosas. E não obstante o queixarem-se disto, recusou El-Rei abertamente mudá-las, dizendo que nunca perdoaria a D. António e ao conde de Vimioso, ao Bispo da Guarda (filho do conde de Vimioso), e a outros, em número de cinquenta e duas pessoas. A respeito das outras graças requeridas pelos procuradores portugueses, mui poucas concedeu, negando umas abertamente, e respondendo a outras com duvidosas esperanças; do que não tanto a ele como a seus ministros se imputou a culpa. Desfeita a Junta dos Estados, partiu El-Rei Filipe para Lisboa e, chegando a Almada, soube da má disposição em que estava a ilha Terceira a seu respeito, porquanto a população da ilha havia recusado aceitar Ambrósio de Aguiar Coutinho que lhe fora enviado por governador. Em consequência destas notícias, ordenou logo a preparação de uma armada suficiente com ordem de se assegurar da ilha de São Miguel, conservar seus moradores na obediência e escoltar as embarcações das Índias. Preparada a armada, despachou-a para as ilhas sob o comando de D. Pedro de Valdez, sem que o autorizasse a intentar coisa alguma contra a ilha inimiga e suas anexas até lhe enviar maiores forças, como as circunstâncias o pedissem. Outrossim lhe entregou cartas para o governo de Angra e instruções particulares em favor dos moradores da terra, para que em boa paz se reduzissem à sua obediência. A armada de D. Pedro de Valdez Com este fim limitado, partiu D. Pedro de Valdez em volta pela ilha de Santa Maria, onde esperou a chegada dos navios e procedeu ao seu reagrupamento e reparação daqueles que apresentavam avarias. Terminadas aquelas operações, já entrada a Primavera, saiu do porto dela com sete naus grandes e mil soldados nelas, afora muita fidalguia que se embarcou e muita mais gente de mar; e chegando à ilha de São Miguel, onde governava Ambrósio de Aguiar Coutinho, por sua ordem trouxe consigo um seu primo que ali se encontrava, chamado D. Juan de Valdez, mestre de campo e grande cavaleiro. Foi com esta armada que partiu sobre a Terceira. Chegada da armada à Terceira e seus movimentos Ao amanhecer do dia 5 de Julho de 1581 apareceu esta armada à vista de Angra, da parte de leste, contando-se nela oito galeões, um pataxo e uma caravela alfamista, que vinha por mexeriqueira. Mui diversos foram os efeitos de temor e alegria, que isto causou aos seguidores dos dois bandos em que se achava dividida a Terceira; porquanto, o partido que seguia a voz de El-Rei D. António esperava que fosse o socorro de França e Inglaterra, há muito prometido; e o que seguia a parte de El-Rei Filipe, esperava e queria fosse já a esquadra para sujeitar a ilha ao seu domínio. E ainda que os primeiros tivessem razão de presumir que fosse armada inimiga, lhes parecia tão pequena que lhes não dava maior cuidado; além de esperarem o triunfo, confiados na justiça da sua causa. Em breve houve o desengano destes diversos pareceres. A armada sem lançar ferro, atravessou defronte do porto, e começou a disparar artilharia contra a cidade, e todo aquele dia velejou em frente a ela; e porque não havia ainda a fortaleza de Santo António, saíram os batéis da popa das naus, de noite, com soldados para de madrugada, ao abrigo do Monte Brasil apreenderem algum barco de pesca, que os informasse do estado da ilha: e assim o conseguiram à terceira noite, tomando um e falando com a gente dele a bordo da nau capitânia, de onde Valdez mandou dizer ao governador Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos, e aos mais da governança da terra, que se entregassem à obediência de El-Rei Filipe que este estava pronto a perdoar-lhes o crime de rebelião, e que ainda lhes faria outras mercês de grande conveniência para todos eles; e que se o não fizessem assim como deviam, lançaria em terra mil soldados e à força de armas tomaria a ilha, sem dar quartel a ninguém. Reacção dos terceirenses Tão reiteradas promessas e ameaças do Castelhano pareciam fraqueza e pusilanimidade e como tais não sortiram outro efeito mais do que o escárnio. Os terceirenses, além de um pequeno número, não queriam género algum de conciliação que expressamente lhes não fosse determinado por El-Rei D. António, a quem mui cordialmente abraçavam e tinham jurado obedecer até por ele derramarem a última gota de sangue. Com esta heróica resolução conheceu Valdez que a ilha se não rendia, tratando por ora somente de participar a El-Rei seu amo estas coisas, e no entretanto pairava sobre a vela nestas águas, esperando disposições ulteriores. Envio de reforços e reacção de D. Pedro de Valdez Apenas El-Rei Filipe soube o estado da ilha Terceira e suas dependentes, e que, excepto as de São Miguel e Santa Maria, todas as demais constantemente rejeitavam aceitar o governador que lhes mandara, sem perder

Estabelecimentos

A Batalha da Salga foi um recontro travado a 25 de Julho de 1581 na baía da Salga, em São Sebastião, na jurisdição do extinto concelho da Vila de São Sebastião, Terceira, Açores, entre uma força de desembarque espanhola e as forças portuguesas que, em nome de D. António I, defendiam a ilha em oposição à união pessoal com Espanha, no contexto da crise de sucessão de 1580. Enquadramento geo-político Logo que Filipe II de Castela se achou em posse pacífica do Reino de Portugal, desbaratado inteiramente o seu rival D. António, prior do Crato, de quem se não sabia o paradeiro, por mais instâncias que se fizessem, cuidou primeiro da sua aclamação e do reconhecimento do príncipe D. Diogo, seu filho, como herdeiro legítimo da Coroa Portuguesa. Concluído este acto com as cerimónias ordinárias do país, abriu a Junta dos Estados a 17 de Abril de 1581, com o objectivo de estabelecer as garantias da Coroa Portuguesa e de publicar a ampla amnistia que tinha prometido aos implicados no apoio ao Prior do Crato. Publicada a amnistia, viram os portugueses, com grande mágoa, que, além de não ser geral, abrangia muitas cláusulas artificiosas. E não obstante o queixarem-se disto, recusou El-Rei abertamente mudá-las, dizendo que nunca perdoaria a D. António e ao conde de Vimioso, ao Bispo da Guarda (filho do conde de Vimioso), e a outros, em número de cinquenta e duas pessoas. A respeito das outras graças requeridas pelos procuradores portugueses, mui poucas concedeu, negando umas abertamente, e respondendo a outras com duvidosas esperanças; do que não tanto a ele como a seus ministros se imputou a culpa. Desfeita a Junta dos Estados, partiu El-Rei Filipe para Lisboa e, chegando a Almada, soube da má disposição em que estava a ilha Terceira a seu respeito, porquanto a população da ilha havia recusado aceitar Ambrósio de Aguiar Coutinho que lhe fora enviado por governador. Em consequência destas notícias, ordenou logo a preparação de uma armada suficiente com ordem de se assegurar da ilha de São Miguel, conservar seus moradores na obediência e escoltar as embarcações das Índias. Preparada a armada, despachou-a para as ilhas sob o comando de D. Pedro de Valdez, sem que o autorizasse a intentar coisa alguma contra a ilha inimiga e suas anexas até lhe enviar maiores forças, como as circunstâncias o pedissem. Outrossim lhe entregou cartas para o governo de Angra e instruções particulares em favor dos moradores da terra, para que em boa paz se reduzissem à sua obediência. A armada de D. Pedro de Valdez Com este fim limitado, partiu D. Pedro de Valdez em volta pela ilha de Santa Maria, onde esperou a chegada dos navios e procedeu ao seu reagrupamento e reparação daqueles que apresentavam avarias. Terminadas aquelas operações, já entrada a Primavera, saiu do porto dela com sete naus grandes e mil soldados nelas, afora muita fidalguia que se embarcou e muita mais gente de mar; e chegando à ilha de São Miguel, onde governava Ambrósio de Aguiar Coutinho, por sua ordem trouxe consigo um seu primo que ali se encontrava, chamado D. Juan de Valdez, mestre de campo e grande cavaleiro. Foi com esta armada que partiu sobre a Terceira. Chegada da armada à Terceira e seus movimentos Ao amanhecer do dia 5 de Julho de 1581 apareceu esta armada à vista de Angra, da parte de leste, contando-se nela oito galeões, um pataxo e uma caravela alfamista, que vinha por mexeriqueira. Mui diversos foram os efeitos de temor e alegria, que isto causou aos seguidores dos dois bandos em que se achava dividida a Terceira; porquanto, o partido que seguia a voz de El-Rei D. António esperava que fosse o socorro de França e Inglaterra, há muito prometido; e o que seguia a parte de El-Rei Filipe, esperava e queria fosse já a esquadra para sujeitar a ilha ao seu domínio. E ainda que os primeiros tivessem razão de presumir que fosse armada inimiga, lhes parecia tão pequena que lhes não dava maior cuidado; além de esperarem o triunfo, confiados na justiça da sua causa. Em breve houve o desengano destes diversos pareceres. A armada sem lançar ferro, atravessou defronte do porto, e começou a disparar artilharia contra a cidade, e todo aquele dia velejou em frente a ela; e porque não havia ainda a fortaleza de Santo António, saíram os batéis da popa das naus, de noite, com soldados para de madrugada, ao abrigo do Monte Brasil apreenderem algum barco de pesca, que os informasse do estado da ilha: e assim o conseguiram à terceira noite, tomando um e falando com a gente dele a bordo da nau capitânia, de onde Valdez mandou dizer ao governador Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos, e aos mais da governança da terra, que se entregassem à obediência de El-Rei Filipe que este estava pronto a perdoar-lhes o crime de rebelião, e que ainda lhes faria outras mercês de grande conveniência para todos eles; e que se o não fizessem assim como deviam, lançaria em terra mil soldados e à força de armas tomaria a ilha, sem dar quartel a ninguém. Reacção dos terceirenses Tão reiteradas promessas e ameaças do Castelhano pareciam fraqueza e pusilanimidade e como tais não sortiram outro efeito mais do que o escárnio. Os terceirenses, além de um pequeno número, não queriam género algum de conciliação que expressamente lhes não fosse determinado por El-Rei D. António, a quem mui cordialmente abraçavam e tinham jurado obedecer até por ele derramarem a última gota de sangue. Com esta heróica resolução conheceu Valdez que a ilha se não rendia, tratando por ora somente de participar a El-Rei seu amo estas coisas, e no entretanto pairava sobre a vela nestas águas, esperando disposições ulteriores. Envio de reforços e reacção de D. Pedro de Valdez Apenas El-Rei Filipe soube o estado da ilha Terceira e suas dependentes, e que, excepto as de São Miguel e Santa Maria, todas as demais constantemente rejeitavam aceitar o governador que lhes mandara, sem perder

Viver Em São Sebastião

A Batalha da Salga foi um recontro travado a 25 de Julho de 1581 na baía da Salga, em São Sebastião, na jurisdição do extinto concelho da Vila de São Sebastião, Terceira, Açores, entre uma força de desembarque espanhola e as forças portuguesas que, em nome de D. António I, defendiam a ilha em oposição à união pessoal com Espanha, no contexto da crise de sucessão de 1580. Enquadramento geo-político Logo que Filipe II de Castela se achou em posse pacífica do Reino de Portugal, desbaratado inteiramente o seu rival D. António, prior do Crato, de quem se não sabia o paradeiro, por mais instâncias que se fizessem, cuidou primeiro da sua aclamação e do reconhecimento do príncipe D. Diogo, seu filho, como herdeiro legítimo da Coroa Portuguesa. Concluído este acto com as cerimónias ordinárias do país, abriu a Junta dos Estados a 17 de Abril de 1581, com o objectivo de estabelecer as garantias da Coroa Portuguesa e de publicar a ampla amnistia que tinha prometido aos implicados no apoio ao Prior do Crato. Publicada a amnistia, viram os portugueses, com grande mágoa, que, além de não ser geral, abrangia muitas cláusulas artificiosas. E não obstante o queixarem-se disto, recusou El-Rei abertamente mudá-las, dizendo que nunca perdoaria a D. António e ao conde de Vimioso, ao Bispo da Guarda (filho do conde de Vimioso), e a outros, em número de cinquenta e duas pessoas. A respeito das outras graças requeridas pelos procuradores portugueses, mui poucas concedeu, negando umas abertamente, e respondendo a outras com duvidosas esperanças; do que não tanto a ele como a seus ministros se imputou a culpa. Desfeita a Junta dos Estados, partiu El-Rei Filipe para Lisboa e, chegando a Almada, soube da má disposição em que estava a ilha Terceira a seu respeito, porquanto a população da ilha havia recusado aceitar Ambrósio de Aguiar Coutinho que lhe fora enviado por governador. Em consequência destas notícias, ordenou logo a preparação de uma armada suficiente com ordem de se assegurar da ilha de São Miguel, conservar seus moradores na obediência e escoltar as embarcações das Índias. Preparada a armada, despachou-a para as ilhas sob o comando de D. Pedro de Valdez, sem que o autorizasse a intentar coisa alguma contra a ilha inimiga e suas anexas até lhe enviar maiores forças, como as circunstâncias o pedissem. Outrossim lhe entregou cartas para o governo de Angra e instruções particulares em favor dos moradores da terra, para que em boa paz se reduzissem à sua obediência. A armada de D. Pedro de Valdez Com este fim limitado, partiu D. Pedro de Valdez em volta pela ilha de Santa Maria, onde esperou a chegada dos navios e procedeu ao seu reagrupamento e reparação daqueles que apresentavam avarias. Terminadas aquelas operações, já entrada a Primavera, saiu do porto dela com sete naus grandes e mil soldados nelas, afora muita fidalguia que se embarcou e muita mais gente de mar; e chegando à ilha de São Miguel, onde governava Ambrósio de Aguiar Coutinho, por sua ordem trouxe consigo um seu primo que ali se encontrava, chamado D. Juan de Valdez, mestre de campo e grande cavaleiro. Foi com esta armada que partiu sobre a Terceira. Chegada da armada à Terceira e seus movimentos Ao amanhecer do dia 5 de Julho de 1581 apareceu esta armada à vista de Angra, da parte de leste, contando-se nela oito galeões, um pataxo e uma caravela alfamista, que vinha por mexeriqueira. Mui diversos foram os efeitos de temor e alegria, que isto causou aos seguidores dos dois bandos em que se achava dividida a Terceira; porquanto, o partido que seguia a voz de El-Rei D. António esperava que fosse o socorro de França e Inglaterra, há muito prometido; e o que seguia a parte de El-Rei Filipe, esperava e queria fosse já a esquadra para sujeitar a ilha ao seu domínio. E ainda que os primeiros tivessem razão de presumir que fosse armada inimiga, lhes parecia tão pequena que lhes não dava maior cuidado; além de esperarem o triunfo, confiados na justiça da sua causa. Em breve houve o desengano destes diversos pareceres. A armada sem lançar ferro, atravessou defronte do porto, e começou a disparar artilharia contra a cidade, e todo aquele dia velejou em frente a ela; e porque não havia ainda a fortaleza de Santo António, saíram os batéis da popa das naus, de noite, com soldados para de madrugada, ao abrigo do Monte Brasil apreenderem algum barco de pesca, que os informasse do estado da ilha: e assim o conseguiram à terceira noite, tomando um e falando com a gente dele a bordo da nau capitânia, de onde Valdez mandou dizer ao governador Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos, e aos mais da governança da terra, que se entregassem à obediência de El-Rei Filipe que este estava pronto a perdoar-lhes o crime de rebelião, e que ainda lhes faria outras mercês de grande conveniência para todos eles; e que se o não fizessem assim como deviam, lançaria em terra mil soldados e à força de armas tomaria a ilha, sem dar quartel a ninguém. Reacção dos terceirenses Tão reiteradas promessas e ameaças do Castelhano pareciam fraqueza e pusilanimidade e como tais não sortiram outro efeito mais do que o escárnio. Os terceirenses, além de um pequeno número, não queriam género algum de conciliação que expressamente lhes não fosse determinado por El-Rei D. António, a quem mui cordialmente abraçavam e tinham jurado obedecer até por ele derramarem a última gota de sangue. Com esta heróica resolução conheceu Valdez que a ilha se não rendia, tratando por ora somente de participar a El-Rei seu amo estas coisas, e no entretanto pairava sobre a vela nestas águas, esperando disposições ulteriores. Envio de reforços e reacção de D. Pedro de Valdez Apenas El-Rei Filipe soube o estado da ilha Terceira e suas dependentes, e que, excepto as de São Miguel e Santa Maria, todas as demais constantemente rejeitavam aceitar o governador que lhes mandara, sem perder

História Contada

A Batalha da Salga foi um recontro travado a 25 de Julho de 1581 na baía da Salga, em São Sebastião, na jurisdição do extinto concelho da Vila de São Sebastião, Terceira, Açores, entre uma força de desembarque espanhola e as forças portuguesas que, em nome de D. António I, defendiam a ilha em oposição à união pessoal com Espanha, no contexto da crise de sucessão de 1580. Enquadramento geo-político Logo que Filipe II de Castela se achou em posse pacífica do Reino de Portugal, desbaratado inteiramente o seu rival D. António, prior do Crato, de quem se não sabia o paradeiro, por mais instâncias que se fizessem, cuidou primeiro da sua aclamação e do reconhecimento do príncipe D. Diogo, seu filho, como herdeiro legítimo da Coroa Portuguesa. Concluído este acto com as cerimónias ordinárias do país, abriu a Junta dos Estados a 17 de Abril de 1581, com o objectivo de estabelecer as garantias da Coroa Portuguesa e de publicar a ampla amnistia que tinha prometido aos implicados no apoio ao Prior do Crato. Publicada a amnistia, viram os portugueses, com grande mágoa, que, além de não ser geral, abrangia muitas cláusulas artificiosas. E não obstante o queixarem-se disto, recusou El-Rei abertamente mudá-las, dizendo que nunca perdoaria a D. António e ao conde de Vimioso, ao Bispo da Guarda (filho do conde de Vimioso), e a outros, em número de cinquenta e duas pessoas. A respeito das outras graças requeridas pelos procuradores portugueses, mui poucas concedeu, negando umas abertamente, e respondendo a outras com duvidosas esperanças; do que não tanto a ele como a seus ministros se imputou a culpa. Desfeita a Junta dos Estados, partiu El-Rei Filipe para Lisboa e, chegando a Almada, soube da má disposição em que estava a ilha Terceira a seu respeito, porquanto a população da ilha havia recusado aceitar Ambrósio de Aguiar Coutinho que lhe fora enviado por governador. Em consequência destas notícias, ordenou logo a preparação de uma armada suficiente com ordem de se assegurar da ilha de São Miguel, conservar seus moradores na obediência e escoltar as embarcações das Índias. Preparada a armada, despachou-a para as ilhas sob o comando de D. Pedro de Valdez, sem que o autorizasse a intentar coisa alguma contra a ilha inimiga e suas anexas até lhe enviar maiores forças, como as circunstâncias o pedissem. Outrossim lhe entregou cartas para o governo de Angra e instruções particulares em favor dos moradores da terra, para que em boa paz se reduzissem à sua obediência. A armada de D. Pedro de Valdez Com este fim limitado, partiu D. Pedro de Valdez em volta pela ilha de Santa Maria, onde esperou a chegada dos navios e procedeu ao seu reagrupamento e reparação daqueles que apresentavam avarias. Terminadas aquelas operações, já entrada a Primavera, saiu do porto dela com sete naus grandes e mil soldados nelas, afora muita fidalguia que se embarcou e muita mais gente de mar; e chegando à ilha de São Miguel, onde governava Ambrósio de Aguiar Coutinho, por sua ordem trouxe consigo um seu primo que ali se encontrava, chamado D. Juan de Valdez, mestre de campo e grande cavaleiro. Foi com esta armada que partiu sobre a Terceira. Chegada da armada à Terceira e seus movimentos Ao amanhecer do dia 5 de Julho de 1581 apareceu esta armada à vista de Angra, da parte de leste, contando-se nela oito galeões, um pataxo e uma caravela alfamista, que vinha por mexeriqueira. Mui diversos foram os efeitos de temor e alegria, que isto causou aos seguidores dos dois bandos em que se achava dividida a Terceira; porquanto, o partido que seguia a voz de El-Rei D. António esperava que fosse o socorro de França e Inglaterra, há muito prometido; e o que seguia a parte de El-Rei Filipe, esperava e queria fosse já a esquadra para sujeitar a ilha ao seu domínio. E ainda que os primeiros tivessem razão de presumir que fosse armada inimiga, lhes parecia tão pequena que lhes não dava maior cuidado; além de esperarem o triunfo, confiados na justiça da sua causa. Em breve houve o desengano destes diversos pareceres. A armada sem lançar ferro, atravessou defronte do porto, e começou a disparar artilharia contra a cidade, e todo aquele dia velejou em frente a ela; e porque não havia ainda a fortaleza de Santo António, saíram os batéis da popa das naus, de noite, com soldados para de madrugada, ao abrigo do Monte Brasil apreenderem algum barco de pesca, que os informasse do estado da ilha: e assim o conseguiram à terceira noite, tomando um e falando com a gente dele a bordo da nau capitânia, de onde Valdez mandou dizer ao governador Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos, e aos mais da governança da terra, que se entregassem à obediência de El-Rei Filipe que este estava pronto a perdoar-lhes o crime de rebelião, e que ainda lhes faria outras mercês de grande conveniência para todos eles; e que se o não fizessem assim como deviam, lançaria em terra mil soldados e à força de armas tomaria a ilha, sem dar quartel a ninguém. Reacção dos terceirenses Tão reiteradas promessas e ameaças do Castelhano pareciam fraqueza e pusilanimidade e como tais não sortiram outro efeito mais do que o escárnio. Os terceirenses, além de um pequeno número, não queriam género algum de conciliação que expressamente lhes não fosse determinado por El-Rei D. António, a quem mui cordialmente abraçavam e tinham jurado obedecer até por ele derramarem a última gota de sangue. Com esta heróica resolução conheceu Valdez que a ilha se não rendia, tratando por ora somente de participar a El-Rei seu amo estas coisas, e no entretanto pairava sobre a vela nestas águas, esperando disposições ulteriores. Envio de reforços e reacção de D. Pedro de Valdez Apenas El-Rei Filipe soube o estado da ilha Terceira e suas dependentes, e que, excepto as de São Miguel e Santa Maria, todas as demais constantemente rejeitavam aceitar o governador que lhes mandara, sem perder

São Sebastião

A Batalha da Salga foi um recontro travado a 25 de Julho de 1581 na baía da Salga, em São Sebastião, na jurisdição do extinto concelho da Vila de São Sebastião, Terceira, Açores, entre uma força de desembarque espanhola e as forças portuguesas que, em nome de D. António I, defendiam a ilha em oposição à união pessoal com Espanha, no contexto da crise de sucessão de 1580. Enquadramento geo-político Logo que Filipe II de Castela se achou em posse pacífica do Reino de Portugal, desbaratado inteiramente o seu rival D. António, prior do Crato, de quem se não sabia o paradeiro, por mais instâncias que se fizessem, cuidou primeiro da sua aclamação e do reconhecimento do príncipe D. Diogo, seu filho, como herdeiro legítimo da Coroa Portuguesa. Concluído este acto com as cerimónias ordinárias do país, abriu a Junta dos Estados a 17 de Abril de 1581, com o objectivo de estabelecer as garantias da Coroa Portuguesa e de publicar a ampla amnistia que tinha prometido aos implicados no apoio ao Prior do Crato. Publicada a amnistia, viram os portugueses, com grande mágoa, que, além de não ser geral, abrangia muitas cláusulas artificiosas. E não obstante o queixarem-se disto, recusou El-Rei abertamente mudá-las, dizendo que nunca perdoaria a D. António e ao conde de Vimioso, ao Bispo da Guarda (filho do conde de Vimioso), e a outros, em número de cinquenta e duas pessoas. A respeito das outras graças requeridas pelos procuradores portugueses, mui poucas concedeu, negando umas abertamente, e respondendo a outras com duvidosas esperanças; do que não tanto a ele como a seus ministros se imputou a culpa. Desfeita a Junta dos Estados, partiu El-Rei Filipe para Lisboa e, chegando a Almada, soube da má disposição em que estava a ilha Terceira a seu respeito, porquanto a população da ilha havia recusado aceitar Ambrósio de Aguiar Coutinho que lhe fora enviado por governador. Em consequência destas notícias, ordenou logo a preparação de uma armada suficiente com ordem de se assegurar da ilha de São Miguel, conservar seus moradores na obediência e escoltar as embarcações das Índias. Preparada a armada, despachou-a para as ilhas sob o comando de D. Pedro de Valdez, sem que o autorizasse a intentar coisa alguma contra a ilha inimiga e suas anexas até lhe enviar maiores forças, como as circunstâncias o pedissem. Outrossim lhe entregou cartas para o governo de Angra e instruções particulares em favor dos moradores da terra, para que em boa paz se reduzissem à sua obediência. A armada de D. Pedro de Valdez Com este fim limitado, partiu D. Pedro de Valdez em volta pela ilha de Santa Maria, onde esperou a chegada dos navios e procedeu ao seu reagrupamento e reparação daqueles que apresentavam avarias. Terminadas aquelas operações, já entrada a Primavera, saiu do porto dela com sete naus grandes e mil soldados nelas, afora muita fidalguia que se embarcou e muita mais gente de mar; e chegando à ilha de São Miguel, onde governava Ambrósio de Aguiar Coutinho, por sua ordem trouxe consigo um seu primo que ali se encontrava, chamado D. Juan de Valdez, mestre de campo e grande cavaleiro. Foi com esta armada que partiu sobre a Terceira. Chegada da armada à Terceira e seus movimentos Ao amanhecer do dia 5 de Julho de 1581 apareceu esta armada à vista de Angra, da parte de leste, contando-se nela oito galeões, um pataxo e uma caravela alfamista, que vinha por mexeriqueira. Mui diversos foram os efeitos de temor e alegria, que isto causou aos seguidores dos dois bandos em que se achava dividida a Terceira; porquanto, o partido que seguia a voz de El-Rei D. António esperava que fosse o socorro de França e Inglaterra, há muito prometido; e o que seguia a parte de El-Rei Filipe, esperava e queria fosse já a esquadra para sujeitar a ilha ao seu domínio. E ainda que os primeiros tivessem razão de presumir que fosse armada inimiga, lhes parecia tão pequena que lhes não dava maior cuidado; além de esperarem o triunfo, confiados na justiça da sua causa. Em breve houve o desengano destes diversos pareceres. A armada sem lançar ferro, atravessou defronte do porto, e começou a disparar artilharia contra a cidade, e todo aquele dia velejou em frente a ela; e porque não havia ainda a fortaleza de Santo António, saíram os batéis da popa das naus, de noite, com soldados para de madrugada, ao abrigo do Monte Brasil apreenderem algum barco de pesca, que os informasse do estado da ilha: e assim o conseguiram à terceira noite, tomando um e falando com a gente dele a bordo da nau capitânia, de onde Valdez mandou dizer ao governador Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos, e aos mais da governança da terra, que se entregassem à obediência de El-Rei Filipe que este estava pronto a perdoar-lhes o crime de rebelião, e que ainda lhes faria outras mercês de grande conveniência para todos eles; e que se o não fizessem assim como deviam, lançaria em terra mil soldados e à força de armas tomaria a ilha, sem dar quartel a ninguém. Reacção dos terceirenses Tão reiteradas promessas e ameaças do Castelhano pareciam fraqueza e pusilanimidade e como tais não sortiram outro efeito mais do que o escárnio. Os terceirenses, além de um pequeno número, não queriam género algum de conciliação que expressamente lhes não fosse determinado por El-Rei D. António, a quem mui cordialmente abraçavam e tinham jurado obedecer até por ele derramarem a última gota de sangue. Com esta heróica resolução conheceu Valdez que a ilha se não rendia, tratando por ora somente de participar a El-Rei seu amo estas coisas, e no entretanto pairava sobre a vela nestas águas, esperando disposições ulteriores. Envio de reforços e reacção de D. Pedro de Valdez Apenas El-Rei Filipe soube o estado da ilha Terceira e suas dependentes, e que, excepto as de São Miguel e Santa Maria, todas as demais constantemente rejeitavam aceitar o governador que lhes mandara, sem perder